A exibição do filme “Acercadacana” e o posterior debate realizado na primeira sessão do novo “CineClube LECgeo” possibilitou algumas reflexões a todos presentes acerca das consequências da expansão do latifúndio canavieiro na Zona da Mata Pernambucana. A partir do relato da protagonista do documentário, a agricultora Maria Francisca, que reside há décadas num sítio localizado no município de São Lourenço da Mata, e que vem travando uma longa luta com o Grupo Petribu para garantir a posse do meio hectare de terras em que reside há mais de 40 anos, vislumbrou-se como a valorização do etanol tem potencializado alguns conflitos territoriais nesta região histórica do estado de Pernambuco.
Pensamos ter ficado evidente nos debates que esta região da Zona da Mata apresenta um marcante conflito territorial, baseado num embate desproporcional entre pequenos agricultores e grandes grupos empresariais. Além das amplas áreas da monocultura da cana-de-açúcar, podemos verificar nesta região pequenos agricultores, policultores, comunidades tradicionais que tem sido expulsos de suas terras para ceder as terras a expansão produtiva do álcool combustível.
No fundo, a realidade exposta no filme dirigido por Felipe Peres Calheiros expõe a forma como a produção do aclamado biodiesel brasileiro (o combustível limpo!) está cercado por uma ampla devastação ambiental, exploração da mão-de-obra dos trabalhadores rurais e crescente concentração de terras. Longe de ser uma realidade nova, estes conflitos na Zona da Mata pernambucana revelam uma das mais amargas heranças do sistema colonial brasileiro. Há séculos a monocultura da cana vem esmagando cana e homem, reduzindo tudo a bagaço[1], parafraseando Josué de Castro, indiferentes às histórias de vida dos agricultores e agricultoras a que subjulgam.
Pensando não interromper o debate iniciado a partir das reflexões estimuladas pelo documentário “Acercadacana”, sugerimos abaixo um conjunto de referências bibliográficas, filmes e sites de organizações que fornecem outros argumentos essenciais à compreensão das disputas políticas e econômicas que persistem nesta região do Nordeste brasileiro.
ANDRADE, Manuel Correia de. 1980. A Terra e o Homem no Nordeste. 4º ed. Ciências Humanas, São Paulo.
DABAT, Christine Paulette Yves Rufino. 2003. Moradores de Engenho: Estudo sobre as relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco, segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. Tese de Doutorado em História. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
FREYRE, Gilberto. 1978. Casa Grande & Senzala: formacão da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 19 ed. J. Olympo, Rio de Janeiro.
MINTZ, Sidney W. 2003. O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados (Org. e trad. Christine Rufino Dabat). EdUFPE, Recife.
SILVA, Girlan Cândido da. 2011. Relações de poder, trabalho, disputas pelo território e economia solidária no contexto da Zona da Mata Sul de Pernambuco: um estudo sobre a Usina Catende. Dissertação de Mestrado em Geografia. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
SILVA JÚNIOR, José Plácido da. 2011. "Ilhados" pela cana, "suspensos" pela usina, "assituados" pela vida: Des-territorialização e resistência de uma comunidade de pescadores artesanais no estuário do rio Sirinhaém, Sirinhaém – PE. Dissertação de Mestrado em Geografia. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Sites e Organizações
Comissão Pastoral da Terra. http://www.cptpe.org.br/
Atlas da Questão Agrária Brasileira: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/
Filmes:
Baixio das Bestas – Cláudio Assis.
